ESCOBLOG

LITERATURA E INFORMAÇÕES RELACIONADAS À ARTE

Sunday, September 16, 2007

HERDEIROS

Na semana que acabou, tivemos a primeira Feira do Livro de Pejuçara. Nenhum autor palestrando, dando autógrafos, só os livros, que chegaram num enorme caminhão-livraria que estacionou ao lado da praça. Os estudantes, pastoreados pelas profes, fizeram fila com seu dinheiro enroladinho na mão. Minha filha pequena, pela vitrina da livraria ambulante, me viu e acenou um vem cá pai. Não me deu chances de opinar e foi logo dizendo qual era o livro que levaria. Despachei a pequena e me engalfinhei naquela luta pelos livros. O curioso é que havia uma prateleira de saldos ao custo de 5 ou 10 pilas (nossa moeda). Entre os sebosos encontrei Bizâncio de Marco Lucchesi e uma coletânea de contos do Dalton Trevisan que me interessaram. Antes de fechar negócio resolvi revistar a prateleira dos novos e achei Herdando uma Biblioteca, de Miguel Sanches Neto. Comprei o livro do Lucchesi e o do Miguel. Do poema Bizâncio não gostei, me arrependi de não ter comprado o livro do Dalton, de quem já provei o veneno. Quanto ao livro do Miguel Sanches Neto, estava certo, até por que já havia lido outras obras suas e, se há verdade – importa se não há ? - no que escreve, me identifico muito com o autor. Em seu livro de crônicas, Herdando uma Biblioteca, tive, várias vezes, a sensação da familiaridade, inclusive quando conta de seu percurso como autor, do tempo em que mandava livros e cartas aos já consagrados autores brasileiros. Em sua crônica Lendo em Trânsito, até reproduziu a resposta que recebeu de Armindo Trevisan. Aí a coincidência: Também mandei uma carta pro Armindo, que também me respondeu, que também me deu conselhos parecidos aos que deu ao Miguel. Não estou querendo dizer que o Trevisan responda assim a todos que lhe escrevem, pois, além de gentil, o professor é sincero e autêntico. Lembro que Armindo Trevisan me mandou fotocópias de cartas que Murilo Mendes lhe endereçou quando era ele, o Armindo, quem pedia atenção. Assim é que funciona, quem está chegando vai pedindo garupa pra quem já anda com as próprias pernas. Será que algum dia alguém vai me enviar algum livro?

Sunday, August 26, 2007

EU FUI TOCADO POR DOIS ANJOS

Sempre que me desloco de Pejuçara a Santa Maria, o ônibus em que viajo pára em Val de Serra. Como a pequena estação fica no trevo de acesso, ainda não conhecia o lugar. Então a professora Lisiane Barrichelo me convidou para visitar a Feira do Livro da localidade e, como esperava, foi surpreendente. Lá conheci um aluno de 42 anos que percorre 16 km de bicicleta para estudar, vi a ilustração feita por um senhor de 72 anos para um de meus poemas e ouvi a voz trêmula das crianças recitando meus versos. Mas o que mais me comoveu foram os dois meninos que se aproximaram, me tocaram como se eu fosse um deus - como para acreditar que o poeta estava ali - e depois correram espantados. Sim, eu estive em Val de Serra e fui tocado por dois anjos. Eu vi o milagre que as professoras realizam naquela pequena escola e fiquei orgulhoso daquela gente.

Sunday, August 05, 2007

O CHAPÉU




Há versos de Carlos Drummond de Andrade que o leitor deve recordar:

Mundo mundo vasto mundo
Se eu me chamasse Raimundo...

Ontem enterramos Raimundo Pinno, avô de minha esposa. Mesmo vendo seu corpo sendo sepultado, é estranho que ele, como a personagem de um livro que nos cativou, pareça continuar vivo. Não dá para acreditar, era o que mais se ouvia no velório, afinal ele estava tão bem, apesar dos 84 anos. Estava jogando baralho com os amigos , de repente colocou a mão no ombro de um deles e, feito quem pifa, disse: To mal. Nem fechou a boca e já fechou os olhos. Mas morreu feliz, se consolavam, morreu feliz. Talvez o morto tenha partido feliz, mas nós, os que ficamos, estamos muito tristes. Eu acredito na morte.

Há um poema de Manuel Bandeira, Momento num café, que o leitor deve recordar:

Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.

Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.

Sunday, July 22, 2007

MAISQUEBACKTCHÊ



Invocado leitor, que tal uma viagem? Sim, uma viagem, porque em MAISQUEMEMÓRIA, romance publicado pela editora Record, Marcelo Backes, nos leva a distâncias que ultrapassam os limites do que poderia se chamar de passeio. Montados no lombo do narrador-personagem – ginete-cavalo -, num trote macio de Quarto de Milha, cavalgamos pela Europa de ontem e de hoje, visitando sua geografia, sua arquitetura, sua história político-econômica, sua arte, enfim, não se apea sem bagagem desse vaqueano – ou será backeano? - missioneiro. De lambuja, – veja que nossa prosa se tempera com regionalismos, coisa que saborosamente se encontra no livro, pois os relinchos são de um pingo-pícaro - a história de Oskar Kokoschka e sua Alma é pintada em quadros colocados entre um galope e outro. E tudo se trama como os tentos de um laço num final de quebrar-queixo. MAISQUEMEMÓRIA, de Marcelo Backes, é maisquediversão para quem sabe cair do cavalo.

Wednesday, July 11, 2007

FEIRA DO LIVRO DE HUMAITÁ II - Mc Camundongo


Entre os amigos que fiz em Humaitá destaco Mc Camundongo, o garoto que está - embora a foto tenha ficado ruím - montado sobre meus ombros. Também merece nota: A Tere e a Marli (pela organização); os jornais Novo Noroeste e Colonial, a rádio Alto Uruguai (pela cobertura do evento). Valeu, Humaitá!

FEIRA DO LIVRO DE HUMAITÁ I



Estive nos dias 10 e 11 de Julho, participando da quarta edição da Feira do Livro e primeira Mostra Cultural de Humaitá. Fui muito bem recebido pela comunidade que estava toda envolvida com o evento. Os alunos escreveram livros artesanais - os melhores foram até premiados -, havia pesca de poemas, exposição de trabalhos, um montão de coisas. Parabéns, Humaitá!

Saturday, July 07, 2007

antes TARDE do que nunca



Casualmente nos encontramos na pracinha do bairro. Eu e o professor da Universidade Federal de Santa Maria, Pedro Brum dos Santos, enquanto vigiávamos os filhos, aproveitamos para falar de nossa outra paixão: Os livros. Soube, nessa conversa, do poeta Paulo Henriques Britto e de seu Macau, livro que o Pedro gentilmente me emprestou. Pois é, assim como quem conversa numa pracinha, quero lhes anunciar o/a TARDE, livro de poemas do poeta mencionado, lançado recentemente pela Companhia Das Letras . Durante a leitura me ocorreram outras leituras: Bruno Tolentino (in memorian), por seu estilo de quem pensa o que fala e, com naturalidade, metrifica e rima a conversa-cabeça; Jorge Luis Borges, por sua consciência da infinitude finita, da repetição, da circularidade. Melhor deixar falar o poeta:

Toda palavra já foi dita. Isso é
sabido. E há que ser dita outra vez.
E outra. E cada vez é outra. E a mesma.

Nenhum de nós vai reinventar a roda.
E no entanto cada um a re-
inventa, para si. E roda. E canta.


Não, isto não é uma resenha, muito menos uma crítica, afinal quem se importaria com o que um Zé Ninguém de Lugar Algum tem a dizer sobre coisa qualquer. Não, temos aqui um pequeno comentário que talvez estimule algum amigo que esteja procurando algo em que por um dos olhos enquanto o outro cuida o filho. Nunca é TARDE.

Saturday, June 30, 2007

CHATEAÇÃO

O Bandeira, o Drummond, o Vinicius de Moraes,
todos haviam partido
e o Quintana já estava arrumando as malas.
Era preciso correr,
o trem partiria logo.
Acho que um passarinho fofoqueiro
avisou o poeta que,
só pra não me receber,
morreu.
Mas na hora extrema pegarei o expresso
e quando chegar no céu,
vou lhe tocar nas asas
e com cara de será que chove:
- Não lhe conheço de algum lugar?